ANTAGONISMOS | Blogue “NOVOS CAMINHOS”

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“Escuto, quanto te olho, o silêncio das histórias que me contas, do tempo das saídas, partidas, entradas, chegadas.

Do tempo da cumplicidade, que guardas na tristeza do olhar, com que me espreitas, ao passar.

Manténs-te fiel, guardando, em segredo, as memórias do passado, agitado, onde, presente, te mantiveste ausente, protegendo, do olhar frio e indiscreto da noite, o calor da felicidade, ruidosa, que te angustia, quando recordas a dor que, desesperadamente, camuflaste, num exercício perturbador, onde a segurança que oferecias, deixava sem proteção, todas as vidas, perdidas, vencidas.

Escuto, quando te olho, a resignação e a culpa, pelos encontros que não soubeste guardar, pelos desencontros que não conseguiste evitar, pela dor, que te forçaram a camuflar.

Olhas-me, devagar, com a tristeza de quem, cansado, se entrega ao destino, traçado, pelas tábuas que te viram nascer e, agora, inútil, te anunciam, num discurso, grosseiro, rude, o ocaso que ameaça aparecer.

Tantas vidas, tantas histórias, tantas aventuras, entradas, desventuras – ousadas.

Tanto amor, tanta dor, tanto encontro, desencontro, barulho e odor.

Olhas-me, devagar, com a humildade e o silêncio com que me queres confessar, que tudo passa, tudo é fugaz, mas vale a pena viver, para sentir, escutar e ver, quem, como tu, soubeste ser, protetora, cúmplice, discreta, atenta, humilde e bela, mesmo quando te querem esconder.”

Jorge Manuel Ventura

Professor

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“ Tigre, tigre, que flamejas pelas florestas noturnas, que mão, que olhos imortais ousaram moldar a tua temível simetria?

William Blake (1757 – 1827)